quarta-feira, 27 de julho de 2011

Viver para o prazer

Uma pequena vila de pescadores de beleza ímpar. Cercada por praias de mar azul e verde por todos os lados. A natureza chama tanta atenção quanto o clima pacato do local. Aqui há sempre tempo para uma conversa descompromissada no meio da rua, na beira da praia, tomando um café. Foi esse clima tranquilo que artistas como Brigitte Bardot escolheram para descansar durante o verão.

(Pôr do sol no porto de Saint-Tropez . Foto tirada desse link)

Alguma semelhança com uma certa cidade carioca? Uma antiga vila de pescadores, linda e tranquila, que se tornou o cantinho preferido de ricos e endinheirados depois da visita de artistas famosos. Mais do que isso, o local virou vitrine de moda e símbolo de badalação, com festas e mais festas, jovens e mais jovens. Uma Búzios francesa.

Mas o correto seria dizer que Búzios é a Saint-Tropez brasileira. Afinal, ela veio antes. O local foi fundado por gregos alguns séculos antes de Cristo. Como quase todas as cidades do Sul da França, foi disputado por espanhóis e ingleses. Depois de duras batalhas que tiveram lugar principalmente entre os séculos XV e XVII, a cidade encontrou novamente um descanso. Na segunda Grande Guerra, porém, alguns bombardeios deixaram o porto e a capela das Penitências aos pedaços. Mas mesmo isso não foi capaz de apagar o requinte e o charme da cidade. Os ataques passaram a ser unicamente de turistas.

(Saint-Tropez vira do avesso no verão, principalmente com as ideias dos ricos e endinheirados como Karl Lagerfeld, que lançou a coleção de verão 2010 da Chanel nas ruas da cidade. Foto tirada desse link)

Recanto de luxo e prazer

Os moradores locais sempre se dividiram em dois: os humildes pescadores e a elite francesa. Ricos, essas pessoas idolatravam a forma de vida hedonista, na qual o prazer é o supremo bem da vida humana. Ainda hoje são conhecidos como jet-set e Saint-Tropez virou moda por causa da moda. Começou na década de 1920, quando a estilista Manine Vachon revolucionou o ramo com a criação de um estilo mediterrâneo relaxada, displicente e sensual, baseado nas cores do verão da cidade. A ideia que encantou a Nouvelle Vague ganhou ainda mais evidência na década de 1950, na pele da modelo e atriz Brigitte Bardot.

(Símbolo de uma moda despojada. Foto tirada desse link)

A atriz é a responsável pela fama da cidade. Alguns dos seus filmes de maior sucesso foram filmados em Saint-Tropez, levando fama instantâne a cidade que, depois da década de 1960, não parou de receber turistas e novos moradores.

A cidade ganhava cada dia mais encanto com a transformação das suas ruas em galeria de arte. Quem passa na frente do porto ou mesmo nas ruelas cetrais vai ver quadros e estátuas de artistas famosos. A tradição de fazer da cidade um museu-vivo é do pintor Paul Signac. Após descobrir Saint-Tropez, ele chamou alguns nomes da arte moderna para visitar o local. As obras que mais chamam atenção são as famosas "gordas" de Matisse, espalhadas por diversos pontos da cidade.

(Uma delas, no centro da cidade)

A essência

Depois de uma noite abaixo das expectativas, como vocês viram no post passado, Saint-Tropez desceu alguns degraus no patamar de destino desejável. Mas eu não parava de me perguntar o quê levou as pessoas à cidade. Se voltarmos no tempo, tirarmos a moda, as festas, a badalação, Saint-Tropez era um lugar comum. E ainda assim foi escolhida por estilistas, artistas e atores para ser moradia, inspiração artística, set de filmagem.

(O porto de Saint-Tropez dá a ver uma das paisagens mais bonitas da cidade)

Passamos por outras tantas cidadelas no meio do caminho, menores, mas tão bonitas quanto. Com belas casas encravadas na montanha, lanchas a espera dos seus donos e um mar azul anil banhando o litoral. Então porque Saint-Tropez? Sorte.

Hoje, a cidade carrega uma aura quase intocável. Estar lá traz uma sensação de estar no lugar certo e na hora certa. Parece que as coisas estão sempre prestes a acontecer e você vai estar lá para ver. E é diferente de Paris, por exemplo, ainda mais famoso e badalada, porque Paris já é divulgada demais. A impressão que dá é que as pessoas de Saint-Tropez são especiais e você se sente especial de tabela. Exclusividade é a palavra certa.

(Hoje, cada canto da cidade é disputado a alguns milhares euros. Foto tirada desse link)

Mas eu digo sorte porque esse sentimento foi criado com o tempo, e poderia ter acontecido em qualquer uma das outras lindas cidades ao longo da costa francesa. Saint-Tropez ser chique é sorte. O que não quer dizer que ela também não é bonita.

Quando o dia raiou estávamos na frente da Place des Lices, a praça mais importante da cidade. Lá estão alguns dos mais importantes restaurantes e bares. É ali que acontecem apresentações musicais e teatrais em dias de festas, os tradicionais campeonatos de pétanque (uma espécie de bocha) e as famosas feiras da cidade. Sem contar que o espaço é lindo e super agradável para um bate papo sem compromisso.


(A praça des Lices é ponto de encontro da população tropesiana. O local também recebe feiras com roupas, artesanato e, principalmente, temperos, frutas, legumes e alimentos caseiros. Fotos tirada desse e desse link)



Depois passeamos pela cidade e constatamos que museu, igreja e pontos turísticos aqui são secundários. Se a cidade toda já é uma obra de arte a céu aberto, melhor aproveitá-la!

(Uma das dezenas de ruelas simpáticas)

sexta-feira, 22 de julho de 2011

Que balada que nada

A empolgação reinou durante a todos os quase 60 minutos que passamos dentro do carro, dirigindo de Cannes até Saint-Tropez. Desde que saímos de Clermont-Ferrand não tínhamos conseguimos ir para bares ou boates. Estávamos sempre cansadas para sair pois passávamos o dia todo andando, para lá e para cá. Visitamos construções medievais, passamos por ruas consagradas, pisamos em igrejas monumentais.

(O que a gente esperava da cidade. Foto tirada desse link)

Mas como captar os hábitos da vida no Sul da França sem parar um segundo, sendo que, OI? parte da graça do sul da França é levar a vida mansa como seus habitantes. Apesar de nunca saírmos de casa na hora planejada e de não termos feito um roteiro detalhado para cada um dos nossos dias (graças a Deus), éramos turistas frenéticas. Aquele dia seria diferente. Saint-Tropez, o feudo francês das festas, onde os jovens se reuniam para se divertir...

... só que não

Chegamos em Saint-Tropez já de noite. Durante o verão europeu o sol se põe por volta de 22h, mas como já era outubro, 20h da noite era o suficiente para não vermos um palmo a nossa frente. Assim como fizemos em Cannes, procuramos um lugar para estacionar e paramos na Praça des Lices, ponto central da cidade. É ali que se organizam feiras de frutas e quitutes típicos da cidade, aonde os mais velhos se encontram para jogar Pétanque (um jogo similar a nossa bocha), aonde os pais levam seus filhos para passear em dias de sol e aonde estavam alguns dos melhores restaurantes e bares da cidade.

(Imagem dos restaurantes medianamente acessíveis de Saint-Tropez. Foto tirada desse link)

Saímos e fomos dar uma voltinha para conhecer a vida noturna de Saint-Tropez. Uma vida noturna bem... calma, dissemos. Não vimos pessoas pelas ruas, bares lotados ou filas em boates. Na verdade, sequer vimos a porta dessas boates. Voltamos à praça e sentamos em um bar que estava consideravelmente cheio. Ficamos lá um tempo curtindo o ambiente. Perguntamos para o garçom onde estavam as festas da cidade e ele disse que, normalmente, as melhores festas ficam perto da praia.

Primeiro erro comum do turista: acreditar que as praias estão perto do centro. Não estão. Para chegar às praias gasta-se cerca de 30 minutos em uma estrada péssima e sem luminosidade nenhuma. Nos avisaram, mas resolvemos tentar mesmo assim. É foi realmente difícil chegar até lá a noite. Nem a "portuguesa do GPS" conseguiu nos ajudar. Com medo de parar em um lugar desconhecido ou de não encontrar nada a beira-mar e ficarmos perdidas, decidimos dar meia volta.

Mais uma vez na praça, explicamos que tentamos ir à praia, sem muito sucesso. Foi bom ter comentado isso pois ele disse que nessa época do ano as festas são mais escassas e sendo segunda-feira não íamos encontrar absolutamente nada na praia. Ótimo. Menos peso na consciência de termos desistido no meio do caminho.

Mas e aí? E as baladas? Não tem nada nem no centro? Fato é que a cidade como um todo fica morna depois do verão. Se em setembro ainda tem alguma coisa, em outubro a coisa diminui bastante. Até que nos fins de semana rola, pois vêm pessoas de cidades vizinhas... mas em uma segunda-feira... E então descobrimos que estávamos no lugar certo, mas na época e dia errados.

Desistir? Jamais

A gente simplesmente NÃO ia sair daquela cidade sem ir sequer pra um barzinho ser feliz. Voltamos ao porto e vimos alguns locais abertos. Sentamos no Bar du Port, um espaço super legal e arrumado. O que refletia na clientela, tão arrumada que enfrentamos olhares do tipo "o que essas turistas de all star e botas estão fazendo ao lado do meu scarpan?". Mas para quem já tinha sobrevivido à Mônaco, isso não era nada.

(Bar du Port. Chique demais para nós? E quem liga? Foto tirada desse link)

Ficamos lá um tempão, conversando, e começamos a puxar papo com or garçons. Um era lindo, mas incrivelmente metido. O outro era mais ou menos, e incrivelmente bombado. O terceiro era feio, mas incrivelmente legal. Viva o equilíbrio de forças! As pessoas iam ficando bêbadas, indo embora, e a gente foi ficando. Até que o do meio nos disse para esperar eles fecharem o bar que iria nos levar para uma boate que sabia que estava funcionando. E-b-a!

O difícil foi ter que ficar lá fora esperando eles arrumarem as mesas, guardarem as cadeiras e lavarem a calçada. Estava incrivelmente frio e enquanto a gente conversava ficava olhando para os lados e vendo se existia algum lugar mais calorosamente habitável. Estava tudo fechado.

Então seguimos o garçom até a tal da boate. Andamos pelo porto e cruzamos uma das passagens mais famosas da cidade, aonde o cheiro de peixe pode ser sentido há quarteirões de distância. Nunca iríamos encontrar o local sozinhas. Era uma porta com uma pequena placa em cima. Surpresa maior do que perceber que aquilo era uma boate gay? Problema nenhum, sem preconceitos. Só achamos engraçado a opção sexual do nosso mais novo amigo. Já tinhamos desconfiado, mas até então nada.

(Eu e Rafa na boate gay)

Ninguém dançava na pista rodeada por almofadas e iluminada a neón. Também tinham poucas pessoas a espera de bebida. Mas ficamos por lá conversando agradavelmente. E devíamos ter ficado ainda mais: quando voltamos às 2h da manhã passei a noite mais gelada da minha vida, tenho certeza! Noite lama em Saint-Tropez. Mas nada como ter histórias pra contar.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Cidade do cinema

A jóia de Cannes é o cinema. Tanto é verdade que o turista vai à cidade procurando a sétima arte. Eu não fujo à regra. Foi pensar na cidade que imaginei placas com nomes de importantes diretores, boutiques com vestidos de gala e museus com temáticas cinematográficas.

Assim, saímos de Menton na manhã do nosso quarto dia de viagem. Abandonamos o apartamento da nossa amiga (com tudo arrumado e um pacote de biscoitos finos em cima da mesa), enchemos o tanque e pegamos estrada. Chegamos à cidade com pouco mais de uma hora de viagem. Procuramos um lugar pra estacionar que não precisasse de cupom e saímos andando.

(O belo e intransponível Palácio dos Festivais. Sim, nós tentamos entrar...)

Grande parte das cidades pelas quais passamos durante toda a viagem eram pequenas. Sair andando indiscriminadamente sem saber aonde ir não era um problema. Chegaríamos ao centro seguindo as placas e, caso nos perdéssemos, era só perguntar na lanchonete mais próxima que encontraríamos nosso caminho a poucos metros dali. Não seria diferentes em Cannes. Em alguns minutos atravessamos avenidas e chegamos ao famoso Palácio de Festivais e do Congresso, o local aonde acontece o Festival de Cannes.

Para contextualizar um pouco, o Festival foi criado em 1946 por Jean Zay, então ministro da Instrução Pública de Belas Artes. A ideia era criar um evento que pudesse competir com a Mosta de Veneza. A partir de 1955 criou-se a Palma de Ouro, o maior prêmio ao qual um dos filmes inscritos no festival pode ganhar. Desde então o evento despontou e hoje é considerado por muitos como o maior prêmio do cinema depois do Oscar. Fato é que todo mês de maio a cidade se enche de celebridades, jornalistas e turistas.


(Algumas das mãos que passeiam pelo local. Martin Scorsese e Julie Andrews)

Fora do mês de maio, o clima é outro. Mas o fim da badalação não apaga o fato de que Cannes continua vivendo da sua aura cinematográfica. A impressão que fica é que a cidade, então, se organizou para se tornar o cinema a céu aberto que ela é. Hoje, ao lado do Palácio do Congresso há uma pequena calçada da fama com as palmas de tudo quanto é artista. De Whoopi Goldberg à Clint Eastwood passando por Sharon Stone e - pasmem - Pantera cor de rosa. Ela mesma, com sua pata de quatro "dedos". Pelo caminho, alguns personagens em papelão para você colocar a cara e dar uma de Luke SkyWalker.

O Palácio recebe diferentes eventos ao longo do ano, o que torna quase impossível sua visitação caso você não seja um dos participantes. Mas não se preocupe, o cinema está "partout". Principalmente nos muros da cidade. Vários edifícios têm imagens de estrelas do cinema, algumas delas de épocas completamente diferentes, se relacionando como se tivessem "nascido" na mesma época.

(Prédio com pintura em homenagem ao cinema. Misturando Roger Rabbit e Hitchcock)

Além da película

Sempre fui contra aquela máxima que prega que para um passeio prefeito é preciso um clima perfeito. Alguns locais simplesmente ficam mais bonitos quando nevam enquanto certos pontos turísticos ganham outra cara quando o dia está chuvoso. Para uma boa experiência é preciso um monte de coisas, mas se a pessoa não tiver disposição para aceitar o que vier tudo vai ficar mais complicado. Se pensarmos com a cabeça de um fotógrafo, o dia em Cannes estava feio. Mas nada mal para o clima que o passeio começou a tomar.

Fomos subindo as ruas que levavam aos restos históricos da cidade. Pequenas igrejas, muros e fortes construídos durante a Idade Média podem ser encontrados ao longo do caminho. Lá em cima, uma praça enorme dá a ver prédios que hoje são usados pela prefeitura local e a Paróquia de São Nicolas, uma igrejinha com ares de antiguidade.

(Estátua na praça em frente à Paróquia de São Nicolau)

Mas os pontos mais velhos da cidade são poucos. No no século XIX que a cidade realmente decolou, quando a aristocracia francesa e inglesa passou a construir lindos edifícios e casas de veraneio a beira mar. Quando a população voltava para suas casas oficiais, ficavam os pescadores que moravam, em sua maioria, perto do antigo porto.

O resto de Cannes mostra o glamour do qual ela procura estar sempre envolvida. As avenidas próximas às praias apresentam hotéis cinco estrelas e cassinos luxuosos. As boutiques ao longo das ruas da cidade trazem marcas como Zara, Gucci e Louis Vuitton.

(Boulevard La Croisette, a avenida mais famosa da cidade. Foto tirada desse link)

A máscara de um homem

A parte de Cannes que ainda está intimamente ligada ao seu passado são as Ilhas de Lérins, um conjunto de quatro ilhas pertencentes à cidade. O local foi alvo de lutas entre franceses, ingleses e espanhóis durante o período medieval pelo domínio. A mais famosa delas é a Ilha de Sainte-Marguerite: lá foi aprisionado o Homem da Máscara de Ferro. Foi uma surpresa! Descobrimos isso na porta de um dos fortes de Cannes, no qual há uma réplica da famosa máscara. Quando lemos que de lá tinha saído o prisioneiro, em direção à pequena ilha francesa, ficamos sem saber se aquilo era verdade ou se era mais um cenário de filme.

("O Máscara de Ferro teria escapado da ilha de Santa Margarida para se refugiar", dizia parte da placa colocada ao lado da réplica de sua máscara, na torre de vigilância da cidade)

Fomos a uma loja que faz o passeio e a moça disse que era real e que partes do filme foram, inclusive, filmadas ali. O Homem da Máscara de Ferro foi um priosioneiro da corte francesa que, de fato, se desconhece inclusive seu nome original. A história foi ganhando amplitude e o homem tornou-se não só um dos prisioneiros mais célebres do país com também o símbolo do absolutismo monárquico. Além de todo o mistério, a ilha guarda o lindo forte de Sainte-Marguerite. Tentamos fazer o passeio, mas ele não fica é disponível as segundas-feiras. Mas nos disseram que na próxima cidade nada pára. Sequer as segundas-feiras. Saímos no final da tarde em direção à Saint-Tropez.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Uma cidade cheia de cores - Parte II

A Colina do Castelo, onde começamos nosso roteiro, também é o local aonde começou toda a cidade. Ela era completamente militarizada até o século XVIII, quando Luís XIV destruir suas construções. Nice então começou a crescer no pé da colina e foi crescendo até transformar-se na 5ª maior cidade da França.

(Comércio na parte antiga da cidade. Como não neva no sul da França, há mesinhas fora dos estabelecimentos até no inverno. Fotos tiradasdesse e desse link)

Após descermos da Colina passeamos um pouco pelo calçadão e "entramos" na parte velha. É possível dizer entramos porque há uma espécie de muro separando as duas partes da cidade. Um mundo novo. Lá "dentro", o que se encontra é uma vila fortificada de arquitetura italiana, com algumas das preciosidades barrocas da região.

Uma das mais importantes é a Catedral de Nice, dedicada a Assunção da Virgem Maria. Construída no século XV, a igreja é simples mas imponente. Só deixa de ser vista ou fotografada quando as mesas e cadeiras da Place Rossetti, na frente da igreja, começam a encher. Em dias normais, ela enche durante os horários de almoço e jantar, como em toda típica cidade francesa. Em fins de semana e feriados o movimento é quase ininterrupto.

(Catedral de Nice. Foto tirada desse link)

Outro ponto interessante é o Cours Saleya, uma passagem exclusiva para pedestres. O local era a tornou-se o principal ponto da cidade ainda no século XVIII, quando famílias ricas e ociosas (os famosos "vida-boa") tinham como lazer passear no local para olhar suas boutiques de luxo, tomar um café a paisana e encontrar os outros nobres habitantes da cidade. Com o tempo, o Cours Saleya tornou-se um espaço de exposição dos floristas de Nice.

(Foto da antiga nobreza. Com certeza ela ainda existe, mas arranjou novas diversões - como os cassinos da cidade. Foto tirada desse link)

A cidade velha tem ainda uma série de construções de época, mas o mais interessante é observar a arquitetura do sem número de prédios de poucos andares. Aqueles simples, que estão por todos os cantos e, juntos, formam um grupo interessante. Com ares medievais, eles são os responsáveis pela direção das ruelas que, apesar de pequenas, chegam a mais de 100 metros (nem sempre em linha reta).

E sempre cores. O que chama a atenção de imediato é o comércio. A parte de baixo desses prédios é o espaço de lanchonetes, boutiques e lojinhas de tudo o que é possível imaginar. Dos típicos souvenirs para os turistas a lojas que fazem porta-retratos de bombons. Também não sobram sorveterias italianas. Fafá experimentou um de framboesa que estava uma delícia. Tão bom que até a mendiga na porta da igreja pediu um pedaço (o engraçado foi explicar pro dono da loja porque queríamos outra pazinha...).

(No meio dessa, outras tantas transversais. Foto tirada desse link)

Depois do comércio, são as cores dos prédios que se destacam. Ao olhar para eles é fácil encontrar também janelas cheias de plantas e varais com roupas penduradas. Tudo é colorido e, por vezes, perfumado. E por vezes divertido. Já estava escurecendo quando escutamos um som que vinha do meio de uma ruela. Era capoeira. Cinco pessoas se apresentavam, revezando entre os instrumentos, a ginga e as acrobacias. Brasileiro quando vê brasileiro já puxa papo mesmo sem saber o nome, e enquanto eles estavam tentando fazer dinheiro a gente conversava. Finalmente, a menina que passou com o pandeiro respondeu que era do Brasil e perguntou "vocês têm uma moeda pra ajudar a gente?". Mas não tínhamos nada. Ela então virou a cara e saiu fora. De nada.

Cidade nova

Nice vai além dos estabelecimentos construídos dentro dos murros da cidade antiga. Um deles é o cinco estrelas Negresco. O hotel ocupa um quarteirão inteiro e suas quatro fachadas estão classificadas no inventário de monumentos históricos franceses. Não entramos. Nem tentamos, na verdade, mas ele já é bem bonito por fora. De estilo neo-clássico, as luzes do hotel ganham destaque na Promenade des Anglais.

(450 quartos e mimos como o tapete gigante de um dos seus salões que custou, sozinho, 300 mil francos. Foto tirada desse link)

Ainda assim, o monumento mais impressionante que vi em Nice foi a Catedral de São Nicolau. Se eu nunca tive vontade de ir pra Rússia um dia, esse desejo surgiu naquele momento. A construção fica no centro da cidade, um pouco distante da praia, em um espaço cheio de plantas. A igreja é gigante e cheia de pequenos detalhes por todos os lados. Do lado de fora, suas paredes são vermelhas, com detalhes em dourado e, por vezes, pinturas com motivos ortodoxos. No alto, domos feitos com pedras inconscientemente verdes.

As meninas ficaram do lado de fora, mas eu quis entrar de qualquer jeito. Eram 6 euros e, confesso, pequei: na confusão de pessoas entrei sem pagar. É engraçado ir em uma igreja que difere tanto da sua. Inconscientemente, esperava ver peças similares às cristãs. Altar, cruz, pinturas renascentistas, motivos barrocos. E tudo era completamente diverso e estranho. A começar pela língua... sequer o alfabeto é o mesmo. Depois, os símbolos. A cruz tem três hastes e os castiçais sete espaços para vela. As pinturas são como mosaicos, coloridas, com detalhes dourados, e cercam TODA a igreja. A Catedral de São Basílio é o próximo passo.

(Edificada devido à importância da comunidade russa na cidade, a igreja ficou pronta ainda em 1912. Cada detalhe foi feito com requinte e cuidado. Fotos tiradasdesse e desse link)

terça-feira, 12 de julho de 2011

Uma cidade cheia de cores - Parte I

A capital da riviera francesa sabe misturar o clima agitado de trabalho à tranquilidade praiana como nenhuma outra. Quem anda por ali pode escolher entre participar da muvuca ou se render a calmaria. Para isso, uma escolha simples: direita ou esquerda. Em geral, as cidades beira-mar se dividem de forma vertical. Perto do mar o clima é de férias e mais no centro a gente nem lembra de praia. Nice é diferente. De um lado você tem a cidade moderna, com casas residenciais, museus, serviço. Do outro está a cidade antiga, cheia de comércio, turistas, festinhas. Adivinha de que lado ficamos?


(Uma Nice que não consegui ver: durante o verão a areia enche de banhistas. Foto tirada desse link)

Saímos de casa cedo para pegar o ônibus, o mesmo que nos deixou em Mônaco no dia anterior. m menos de uma hora chegamos na rodoviária sem saber para onde deveríamos ir. Fomos atravessando largas avenidas e viadutos. Com a ajuda de algumas pessoas e um mapa local chegamos ao calçadão mais famoso do Sul da França: la Promenade des Anglais (algo como "passeio dos ingleses"). O caminho foi financiado pela comunidade inglesa que residia ali no início do século XIX.

Ao chegar no calçadão ficamos em pé, olhando para um lado e para o outro, e de novo para o mar azul. Por um minuto a gente se sentiu no Brasil. Tínhamos a sensação de pertencer àquele lugar. Sentadas nas famosas cadeiras azuis do calçadão, comemos e passamos uns bons minutos observando a Baía dos Anjos, as pessoas que almoçavam na areia, as bicicletas e o movimento local.

(Só quando chegamos nos demos conta que a bateria tinha ficado no apartamento... Foto tirada desse link)

A nossa esquerda estava a Colina do Castelo. Perguntamos a algumas pessoas e foram unânimes: lá de cima está a vista mais bonita da cidade. As meninas queriam ouvir o contrário e se poupar das dezenas de lances de escada. Vimos que um elevador leva as pessoas até o mirante, mas no estado de pobreza em que estávamos fomos todas a pé.


(Vista do mirante da Colina do Castelo. Foto tirada desse link)

Há diversos mirantes ao longo da subida e lindas paisagem em todos eles. Uma das diferenças do sul da França pro resto da França são as cores. Naquela parte do país, os prédios não são todos beges ou cinzas e os jardins não são só verdes. As construções são coloridas. Vermelho, laranja e amarelo enfeitam a cidade. E o melhor: é assim o ano inteiro. Em Nica é a mesma coisas. Do mirante da Colina do castelo se vê a arquitetura barroca da antiga cidade, as pessoas indo e vindo, o calçadão com sua bicicletas, a água do mar... totalmente azul. Sem sombra de dúvida, uma das paisagens mais bonitas de toda a viagem. Nice é realmente espetacular.

Quem fica com Nice?

A história da capital da riviera francesa foi determinado por duas fortes características. A primeira é a constante troca de soberania. Mesmo que na maior parte das vezes esse câmbio tenha acontecido de forma não violenta, esse fato marcou a cidade não só nos planos econômico e político como também cultural e arquitetônico. Não por menos, a cidade tem uma série de castelos, igrejas e nomes de influência inglesa e italiana.


(A Itália fez escola na arquitetura francesa mas também na celebração do Carnaval. O evento em Nice teve início no ano de 1924 e é um dos maiores do país. Foto tirada desse link)

A segunda é o rápido crescimento local - principalmente a partir do século XIX - por causa do turismo. Entre os maiores atrativos da cidade estavam suas praias e momentos em arquitetura barroca. A esses o governo agregou ruas, praças, restaurante, hotéis, cassinos e museus, todos construídos para atender a demanda dessas pessoas que traziam dinheiro e faziam a fama de Nice dentro e fora da França.

Hoje, a cidade é de quem participa dela. Não se parece, por exemplo, com Aix-en-Provence, aonde os turistas jamais conseguirão compartilhar os sentimentos e seguir o ritmo quase oriental dos seus habitante. Também não é como Paris, que vai taxá-lo de turista mesmo que você seja capaz de pronunciar "fromage brie" sem sotaque. Em Nice, todos parecem viver a cidade, exatamente porque não há uma só forma de experimentá-la.

Próximo post: Cheia de cores- Parte II